quinta-feira, 11 de outubro de 2012


MAPUTO 19 de agosto de 2012
Fui para o sitio (local) de Maxakene, um bairro bem popular, para conhecer o grupo Xindiro (em xangana significa pião que gira).
É domingo e os homens na rua usam terno e gravata para irem à igreja.
Vim com Paciência, uma negra bonita, que ao chegar disse que esse era um sítio de alegria, disse que morava no sítio Polana Caniço, no qual depois fui saber ser um bairro bem popular.
O ensaio foi numa sala de uma escola pública, por isso somente podem ensaiar nos finais de semana. O grupo existe há 16 anos têm crianças, homens, mulheres e música ao vivo.Paciência trabalha em escolas públicas dando aula de danças tradicionais, através do apoio e projeto com a embaixada da Noruega. E faz faculdade de artes no ISARC. Disse que o grupo Xindiro tem em torno de 24 pessoas. Ela me apresenta a outras belas mulheres negras, Cândida e Áurea.

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Dentro da sala de aula, as cartelas foram para o canto; ao lado acontecia uma partida de futebol; juntaram-se muitas crianças para assistir ao ensaio. 

De repente um homem (creio que um dos líderes) começou a andar pelo espaço (sem falar nada) e todos começaram a ir atrás. Ele mudava a direção e todos iam junto. Começou a fazer movimentos com os braços andando e ainda em fila, como um aquecimento. E os instrumentos e tocadores foram chegando (a timbila, um tambor que parece com nosso zabumba do boi e muitos outros tambores que ainda não sei dizer os nomes). Agora o ensaio é com percussão ao vivo, é interessante como as coisas vão acontecendo naturalmente, os códigos estabelecidos entre eles. Vão para diagonal realizando o movimento um de cada vez. É forte e preciso a marcação dos pés e pernas no chão; e os ombros não param de se mexer.


A dinâmica é a seguinte: o mestre mostra e vai contando e os outros fazem repetindo. Chegaram mais seis tambores, alguns são tocados com baquetas e outros com as mãos. Cada tambor traz uma pulsação diferente e também tem um chocalho e um ferro, que me faz lembrar do tambor de mina ou do maracatu.
Tem um quadro negro com o horário para ser realizado cada pedaço do ensaio. Estão organizados com a metodologia que decidiram fazer, e mesmo tendo começado atrasados o diretor disse que irão fazer até o final.
A primeira dança que fizeram foi a Marrabenta – traz um molejo no quadril e na cintura (traz uma relação com o umbigo, mesmo não tendo a vênia ou umbigada efetiva, como chamamos no Brasil). Dançam sozinhas ou em pares. Esses movimentos me lembram da salsa e o carimbó.
O diretor Afonso pede para parar a percussão e organiza a coreografia, cada detalhe, enquanto isso os outros esperam. Quando voltou a música com a coreografia, um deles começou a cantar e em seguida o canto da resposta. Que som maravilhoso!
A segunda dança que fizeram foi o Kway (dança da alegria do sul de Moçambique). Também havia pergunta e resposta (aliás, me parece que todas trazem essa dinâmica). Tem as pernas soltas com joelhos bem flexionados (lembra os palhaços do cavalo marinho).
O diretor busca a precisão do movimento e pergunta se o movimento é para baixo ou para cima. O comando da mudança de direção é pela voz.
A terceira dança que fizeram foi a Machahona (dança de guerra do norte de Moçambique), o movimento é bem forte, traz uma qualidade com movimentos cortados, secos e menos arredondados, é uma dança mais masculina.
Felizardo, é um menino de 15 anos que toca muito, disse que toca desde os 10 anos. Estou impressionada com sua liderança!

A quarta dança que fizeram foi o Xigubo (dança masculina de guerra da região de Zavala – dos timbila). Tem passos precisos, duros, lembram golpes de capoeira, também tem acrobacias.
A quinta dança que fizeram foi o Mutxongoyo (homens e mulheres) – cantos, palmas - bem acelerado. Interessante que estou lembrando de alguns movimentos que os bailarinos da residência de dança contemporânea estavam fazendo. Essas misturas do contemporâneo e o tradicional são muito interessantes aqui em Maputo.
A sexta dança que fizeram foi Nganga (homens e mulheres) – feito em cordões.
A sétima dança que fizeram foi Ngalanga (homens e mulheres) – é bem acelerada, todos juntos, duplas, cordões. Tem movimentos de ombros muito rápidos.
Um músico do grupo me falou que o nome dos tambores podiam ser Xigubo (tambor grande com couro para os dois lados – que eu me lembrei do zabumba) / Macute (dois pequenos) / Nicute/ Tonjes – mais altos/ Ngoma (dois menores).
Foi interessante ir junto com os homens tocadores até o lugar de fazer fogo para aquecer os tambores e vi a semelhança do ritual em relação aos tambores de crioula e outros do jongo, assim como, perceber e confirmar que este movimento é do gênero masculino.