MAPUTO 19 de
agosto de 2012
Fui para o
sitio (local) de Maxakene, um bairro bem popular, para conhecer o grupo Xindiro
(em xangana significa pião que gira).
É domingo e os
homens na rua usam terno e gravata para irem à igreja.
Vim com
Paciência, uma negra bonita, que ao chegar disse que esse era um sítio de
alegria, disse que morava no sítio Polana Caniço, no qual depois fui saber ser
um bairro bem popular.
O ensaio foi
numa sala de uma escola pública, por isso somente podem ensaiar nos finais de
semana. O grupo existe há 16 anos têm crianças, homens, mulheres e música ao
vivo. Paciência trabalha em escolas públicas dando aula de danças tradicionais, através do apoio e projeto com a embaixada da Noruega. E faz faculdade de artes no ISARC. Disse que o grupo Xindiro tem em torno de 24 pessoas. Ela me apresenta a outras belas mulheres negras, Cândida e Áurea.
.
Dentro da sala
de aula, as cartelas foram para o canto; ao lado acontecia uma partida de
futebol; juntaram-se muitas crianças para assistir ao ensaio.
De repente um
homem (creio que um dos líderes) começou a andar pelo espaço (sem falar nada) e
todos começaram a ir atrás. Ele mudava a direção e todos iam junto. Começou a
fazer movimentos com os braços andando e ainda em fila, como um aquecimento. E
os instrumentos e tocadores foram chegando (a timbila, um tambor que parece com
nosso zabumba do boi e muitos outros tambores que ainda não sei dizer os nomes).
Agora o ensaio é com percussão ao vivo, é interessante como as coisas vão
acontecendo naturalmente, os códigos estabelecidos entre eles. Vão para
diagonal realizando o movimento um de cada vez. É forte e preciso a marcação
dos pés e pernas no chão; e os ombros não param de se mexer.
A dinâmica é a
seguinte: o mestre mostra e vai contando e os outros fazem repetindo. Chegaram
mais seis tambores, alguns são tocados com baquetas e outros com as mãos. Cada
tambor traz uma pulsação diferente e também tem um chocalho e um ferro, que me
faz lembrar do tambor de mina ou do maracatu.
Tem um quadro
negro com o horário para ser realizado cada pedaço do ensaio. Estão organizados
com a metodologia que decidiram fazer, e mesmo tendo começado atrasados o
diretor disse que irão fazer até o final.
A primeira
dança que fizeram foi a Marrabenta –
traz um molejo no quadril e na cintura (traz uma relação com o umbigo, mesmo
não tendo a vênia ou umbigada efetiva, como chamamos no Brasil). Dançam
sozinhas ou em pares. Esses movimentos me lembram da salsa e o carimbó.
O diretor
Afonso pede para parar a percussão e organiza a coreografia, cada detalhe,
enquanto isso os outros esperam. Quando voltou a música com a coreografia, um
deles começou a cantar e em seguida o canto da resposta. Que som maravilhoso!
A segunda
dança que fizeram foi o Kway (dança
da alegria do sul de Moçambique). Também havia pergunta e resposta (aliás, me
parece que todas trazem essa dinâmica). Tem as pernas soltas com joelhos bem
flexionados (lembra os palhaços do cavalo marinho).
O diretor
busca a precisão do movimento e pergunta se o movimento é para baixo ou para
cima. O comando da mudança de direção é pela voz.
A terceira
dança que fizeram foi a Machahona
(dança de guerra do norte de Moçambique), o movimento é bem forte, traz uma
qualidade com movimentos cortados, secos e menos arredondados, é uma dança mais
masculina.
Felizardo, é
um menino de 15 anos que toca muito, disse que toca desde os 10 anos. Estou impressionada
com sua liderança!
A quarta dança
que fizeram foi o Xigubo (dança
masculina de guerra da região de Zavala – dos timbila). Tem passos precisos,
duros, lembram golpes de capoeira, também tem acrobacias.
A quinta dança
que fizeram foi o Mutxongoyo (homens
e mulheres) – cantos, palmas - bem acelerado. Interessante que estou lembrando
de alguns movimentos que os bailarinos da residência de dança contemporânea
estavam fazendo. Essas misturas do contemporâneo e o tradicional são muito interessantes
aqui em Maputo.
A sexta dança
que fizeram foi Nganga (homens e
mulheres) – feito em cordões.
A sétima dança
que fizeram foi Ngalanga (homens e
mulheres) – é bem acelerada, todos juntos, duplas, cordões. Tem movimentos de
ombros muito rápidos.
Um músico do
grupo me falou que o nome dos tambores podiam ser Xigubo (tambor grande com
couro para os dois lados – que eu me lembrei do zabumba) / Macute (dois
pequenos) / Nicute/ Tonjes – mais altos/ Ngoma (dois menores).
Foi
interessante ir junto com os homens tocadores até o lugar de fazer fogo para
aquecer os tambores e vi a semelhança do ritual em relação aos tambores de
crioula e outros do jongo, assim como, perceber e confirmar que este movimento
é do gênero masculino.
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